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quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Investigação-Acção em Educação

A investigação-acção é um método de investigação que pode situar-se no campo da Educação como orientado para a prática educativa. Na sua essência, parte do pressuposto de que é possível conciliar, num mesmo percurso, a investigação e a acção.

Cohen, Manion e Morrison (2004)[1] situam-na como uma intervenção realizada num contexto real e sujeita a um exame rigoroso sobre os efeitos dessa mesma intervenção. Kemmis e McTaggart (citados por estes autores) assumem que fazer investigação-acção é planear, actuar, observar e reflectir mais cuidadosamente, mais sistematicamente e mais rigorosamente do que o que se faz na vida diária.

De uma forma muito geral, podemos ainda referi-lo como visando transformar a realidade, propiciar a mudança social e possibilitar que os participantes tomem consciência do seu papel nos processos de transformação (Sandín Esteban, 2003)[2].

Apesar de variações no modo como vários autores conceptualizam este método de investigação, há unanimidade quanto a alguns traços essenciais que o caracterizam:
  • Diz respeito a um problema ou situação real;
  • A intervenção é situada no contexto onde esse problema é vivenciado;
  • É realizada pelos próprios intervenientes na acção;
  • Pretende contribuir para a mudança;
  • Engloba obrigatoriamente um percurso que combina a reflexão com a acção, num processo dialéctico, sistemático e contínuo.
Cohen, Manion e Morrison apresentam o processo de investigação-acção como desenvolvendo-se em 8 etapas:
  1. Identificação, avaliação e formulação do problema percebido como crítico numa situação quotidiana de ensino;
  2. Discussões e negociações preliminares entre as partes interessadas - profs, investigadores, consultores, o que deve culminar com uma proposta em draft;
  3. Revisão da literatura para encontrar o que pode ser aprendido de estudos comparáveis, quer quanto aos objectivos, como aos procedimentos e aos problema encontrados;
  4. Modificação ou redefinição da formulação inicial do problema; explicitação das mudanças que se pretendem;
  5. Selecção dos procedimentos de investigação;
  6. Escolha dos procedimentos de avaliação a ser usados;
  7. Implementação do projecto;
  8. Interpretação dos dados e avaliação global do projecto; os resultados globais são discutidos à luz dos critérios de avaliação previamente considerados.
Por sua vez, Sandín Esteban apresenta uma metodologia centrada em 4 grandes etapas, que se repetem em espiral:
  1. Clarificação e diagnóstico de uma situação problemática para a prática;
  2. Identificação e definição de estratégias de acção para resolver o problema;
  3. Executar as estratégias previstas e avaliá-las;
  4. Apreciação global do resultado tendo em vista uma nova clarificação do problema, dando origem ao passo seguinte da espiral de reflexão e acção.

Tendo em conta esta sistematização, é-nos proposto o estudo deste método, de modo inteiramente livre, até 19 de Maio de 2008. Neste estudo é importante que se procure:

  • Reflectir sobre a relação entre o método de investigação-acção e a posição pessoal do investigador;
  • Reflectir sobre as vantagens e desvantagens deste método;
  • Reflectir sobre os passos determinantes deste método.

[1] Cohen, L., Manion, L., Morrison, K. (2004). Research Methods in Education. London: RoutledgeFalmer.

[2] Sandín Esteban, M.P. (2003). Investigacion Cualitativa en Educación. Madrid: McGrawHill.

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Retirado das Orientações da Unidade Curricular para a actividade.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Métodos de Investigação em Educação

Na sequência da identificação dos paradigmas de investigação em Educação, há que identificar quais as metodologias de investigação utilizadas em Educação.

Tal como referimos anteriormente, estas metodologias têm a montante os paradigmas de investigação, que as qualificam.

Em essência e considerando os métodos tradicionais de investigação, teremos métodos quantitativos de investigação, métodos qualitativos de investigação e métodos mistos (aqueles que utilizam elementos quantitativos e qualitativos, em simultâneo).

Independentemente de poder estar a ocorrer uma mudança ao nível dos paradigmas de investigação em Educação, as metodologias de investigação que, porventura, estarão a ser mais utilizadas são exactamente aquelas que recorrem a elementos quantitativos e qualitativos.

Esta metodologia mista, correspondente à possibilidade da coexistência de métodos de diferentes enquadramentos teóricos, tem muitas ligações com a Teoria Sociológica de Bernstein, pela rejeição quer da análise empírica, sem uma base teórica que lhe esteja subjacente, quer da utilização de teoria que não permita a sua transformação com base nos resultados empíricos.

Esta utilização de paradigmas diferentes, vem ao encontro do que referimos num post anterior, a propósito das diferenças entre investigação e pesquisa. A investigação realizada tem por finalidade a produção de conhecimento educacional, o qual, embora enquadrado pelas ciências sociais, tem relacionamentos com as ciências experimentais.

Este contacto com ciências de diferente natureza, justifica cada vez mais a utilização em Educação de metodologias de investigação mistas.

Apresentam-se, em seguida, alguns aspectos caracterizadores dos Métodos de Investigação Qualitativos e Quantitativos (Fonte listada neste blog em "Outros Recursos": Simões, C. & Paiva, J. (2004). Metodologias de Investigação em Educação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. pp. 2-3)

Métodos Qualitativos de Investigação
  • Os métodos qualitativos são “humanísticos” - quando os investigadores estudam os sujeitos de uma forma qualitativa tentam conhecê-los como pessoas e experimentar o que eles experimentam na sua vida diária (não reduzem a palavra e os actos a equações estatísticas);
  • Os investigadores interessam-se mais pelo processo de investigação do que unicamente pelos resultados ou produtos que dela decorrem;
  • Em investigação qualitativa o “plano de investigação é flexível”;
  • A investigação qualitativa é “descritiva”. A descrição deve ser rigorosa e resultar directamente dos dados recolhidos. Os dados incluem transcrições de entrevistas, registos de observações, documentos escritos (pessoais e oficiais), fotografias, gravações vídeo, etc.. Os investigadores analisam as notas tomadas em trabalhos de campo, os dados recolhidos, respeitando, tanto quanto possível, a forma segundo a qual foram registados ou transcritos;
  • O investigador é o “instrumento” de recolha de dados; a validade e a fiabilidade dos dados depende muito da sua sensibilidade, conhecimento e experiência. A questão da objectividade do investigador constitui o principal problema da investigação qualitativa;
  • Em investigação qualitativa “a preocupação central não é a de saber se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a eles podem ser generalizados”.

Métodos Quantitativos de Investigação

  • A utilização de Métodos Quantitativos está associada à investigação experimental ou quase experimental o que pressupõe a observação de fenómenos, a formulação de hipóteses explicativas desses mesmos fenómenos, o controlo de variáveis, a selecção aleatória dos sujeitos de investigação (amostragem), a verificação ou rejeição das hipóteses mediante uma recolha rigorosa de dados, posteriormente sujeitos a uma análise estatística e uma utilização de modelos matemáticos para testar essas mesmas hipóteses. O objectivo é a generalização dos resultados de uma determinada população em estudo a partir da amostra, o estabelecimento de relações causa - efeito e a previsão dos fenómenos,
  • A investigação quantitativa implica que o investigador antes de iniciar o trabalho elabore um plano de investigação estruturado, no qual os objectivos e os procedimentos de investigação estejam indicados pormenorizadamente;
  • A elaboração do plano deverá ser precedida de uma revisão de literatura pertinente (também nos métodos qualitativos, diga-se), a qual é essencial não só para a definição dos reais objectivos do trabalho, como também para a formulação de hipóteses e para a definição de variáveis;
  • Os objectivos da investigação quantitativa consistem essencialmente em encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao tratamento estatístico dos dados recolhidos, testar teorias;
  • Quer se trate de uma investigação experimental, quer se trate da caracterização estatística de uma determinada população (por exemplo mediante a administração de um inquérito por questionário ou por entrevista estruturada), procede-se à selecção de uma amostra que deverá ser representativa da população em estudo, para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma população, o que implica a selecção aleatória dos sujeitos de investigação;
  • Em métodos quase experimentais assumem-se as limitações da não aleatorização;
  • Para testar as hipóteses (verificação ou rejeição) existe uma grande variedade de testes, cuja eficácia é reconhecida;
  • Uma das principais limitações dos métodos quantitativos em Ciências Sociais está ligada à própria natureza dos fenómenos estudados: complexidade dos seres humanos; estímulo que dá origem a diferentes respostas de acordo com os sujeitos; grande número de variáveis cujo controlo é difícil ou mesmo impossível; subjectividade por parte do investigador; medição que é muitas vezes indirecta, como é por exemplo o caso das atitudes; problema da validade e fiabilidade dos instrumentos de medição.

Mais informação aqui.

terça-feira, 25 de março de 2008

Investigação versus Pesquisa

Antes de abordar a Temática 1 da Unidade Curricular, gostaria de me deter um pouco sobre estes dois conceitos: Investigação e Pesquisa.

Se há coisa com que temos sido confrontados ao longo deste Mestrado, é o apelo constante à nossa capacidade reflexiva e de questionamento sobre o porquê das coisas, o porquê de algumas expressões e o porquê de alguns conceitos, já que, neste momento, é firme a percepção de que este é o caminho que permite evoluir da Informação para o Conhecimento e, deste último, para o Saber.

Apesar de abordados com frequência de modo quase indistinto, será que Investigação e Pesquisa, independentemente do campo de aplicação, têm o mesmo significado?

Nos dicionários, Investigação é um conceito apresentado como o "acto ou efeito de investigar, de pesquisar, de inquirir", enquanto Pesquisa é um conceito apresentado como o "acto ou efeito de pesquisar, indagação, investigação". Quanto mais não seja de modo aparente e pela raiz etimológica das palavras, Investigação parece ser definida com recurso a Pesquisa e Pesquisa parece ser definida com recurso a Investigação.

Mas na nossa modesta opinião, estes conceitos, ainda que relacionados, encerram dinâmicas diferentes, tal como adiante se explica.

Por um lado, a Pesquisa normalmente incide sobre o que existe (presente e passado), numa acção de busca ou procura de determinado elemento ou dado. O seu campo de acção é, em geral, informação ou conhecimento já existente. Ou seja, se pudéssemos imaginar a Pesquisa como um vector, teríamos um vector orientado para o presente ou para o passado.

Por outro lado, a Investigação é orientada para o futuro, para aquilo que ainda não se conhece, tentando obter ligações com esse "ainda desconhecido" a partir da informação e do conhecimento existentes. O campo de acção da Investigação é assim um campo de "descoberta" e o seu modo de acção pode recorrer a vários métodos de investigação, consoante o campo de aplicação dessa investigação e as finalidades da mesma. Ou seja, se pudéssemos imaginar a Investigação como um vector, teríamos um vector orientado para o futuro.

Em última análise a Pesquisa permite filtrar e obter dados, informação ou conhecimento existentes, de modo organizado e estruturado, enquanto a Investigação visa a "descoberta", explicação e determinação daquilo que ainda não se conhece e que, por vezes, nem se sabe se existe.

Ligando agora o conceito de Investigação ao de Educação, vejamos como eles se inter-relacionam no contexto da Sociedade do Conhecimento. Este é um conceito relativamente recente, decorrente da evolução do conceito que o antecedeu, a Sociedade da Informação. Esta evolução resultou da constatação que a informação, por si só, não promove o desenvolvimento humano, económico e social, mas sim a utilização que se faz dessa informação.

Surgiu assim o conceito de Sociedade do Conhecimento, como o da sociedade que utiliza a informação ao serviço do desenvolvimento integrado de si própria. Percebe-se assim o que é que está na origem da Europa do Conhecimento e qual a sua finalidade, a promoção do Conhecimento. Para a obtenção, promoção e desenvolvimento desse Conhecimento, há que considerar, em permanência, três "pilares" fundamentais: a Educação, a Investigação e a Inovação.

Esta relação permite antever a importância, em particular, da Investigação Educacional, na medida em que a sua esfera de acção liga dois dos três "pilares" referidos e, na medida em que a Investigação assenta sobre um vector orientado para o futuro, cujas características permitirão a obtenção e concretização da Inovação, considerado na actualidade como um dos aspectos fulcrais para o desenvolvimento da sociedade, em qualquer dos seus aspectos e também, em particular, daqueles directamente relacionados com a Educação e com os Sistemas Educativos, não só ao nível das práticas pedagógicas, mas também dos recursos utilizados.

Feita esta análise reflexiva sobre Investigação e Pesquisa, pensamos estar agora em melhores condições para abordar a Temática 1 da Unidade Curricular "Investigação Educacional", dedicada ao Processo de Investigação.