sábado, 3 de maio de 2008

Como fazer entrevistas semi-estruturadas


Antes da entrevista:

Preparar-se para a entrevista. Assegurar-se que se está suficientemente informado sobre o assunto, de maneira a que se possam colocar questões relevantes.

Planear o enquadramento da entrevista – um checklist ou matriz delineando os tópicos principais ou questões a debater, indo das mais gerais para as mais específicas – e uma calendarização.

Ao seleccionar a equipa de entrevistadores, deve estar-se atento ao impacto que estes poderão ter sobre a qualidade dos dados (informação) recolhidos.

Decidir sobre a dimensão e a natureza da amostra, bem como sobre o método para seleccionar os entrevistados adequados aos objectivos do estudo/investigação. Assegurar que a amostra inclui representantes de diferentes categorias sociais/grupos.

Estar atento à rotina diária/ocupação dos entrevistados, de forma a assegurar que as entrevistas não interferem com as principais actividades dessas pessoas.

É uma boa ideia fazer um teste com outros entrevistados antes de aplicar a entrevista (uma das formas de validar o instrumento de recolha de dados).

Deve também pensar-se no local onde decorrerão as entrevistas, bem como salvaguardar aspectos relacionados com diferentes idiomas e com o assegurar da confidencialidade.

Durante a entrevista:

Assegurar que os entrevistados se sentem confortáveis durante a entrevista. Começar a entrevista com aqueles tópicos de adaptação e introdução ao core da entrevista propriamente dita. Ser sensível e respeitador, mostrando sempre interesse nas respostas dos entrevistados.

Utilizar uma variedade de estilos de questão (desde as de confirmação, clarificação, exploração, etc.) e ouvir com atenção. Não emitir juízos verbais, não tomar partido e não criticar as respostas. Manter um low profile. Tomar apenas notas breves (o suficiente para despertar os pensamentos).

Depois da entrevista:

Assegurar que se elabora o desenvolvimento dessas notas logo após a entrevista. Analisar a informação recolhida. Comparar as diferentes respostas dos entrevistados para triangular e verificar esses dados. Pode triangular-se em maior profundidade, discutindo os resultados com a comunidade alargada/organização.

Se for utilizado um gravador durante a entrevista, convém ter presente que a transcrição das entrevistas é um processo bastante demorado.

Adaptado de:
http://www.imainternational.com/r_me_interview.php

Características da entrevista semi-estruturada


A entrevista semi-estruturada aproxima-se mais duma conversação (diálogo), focada em determinados assuntos, do que duma entrevista formal. Baseia-se num guião de entrevista adaptável e não rígido ou pré-determinado.

A vantagem desta técnica é a sua flexibilidade e a possibilidade de rápida adaptação. A entrevista pode ser ajustada quer ao indivíduo, quer às circunstâncias. Ao mesmo tempo, a utilização dum plano ou guião contribui para a reunião sistemática dos dados recolhidos.

Normalmente, a entrevista semi-estruturada inicia-se com tópicos gerais, a que se seguem perguntas utilizando “O quê?”, “Porquê?”, “Quando?”, “Como?” e “Quem”, devendo deixar-se que a conversação decorra de modo fluido.

Apesar de o entrevistador poder ter as perguntas previamente preparadas, a maioria das perguntas geram-se à medida que a entrevista vai decorrendo, permitindo quer ao entrevistador, quer à pessoa entrevistada a flexibilidade para aprofundar ou confirmar, se necessário.

A entrevista semi-estruturada pode ser planeada ou acontecer espontaneamente. Pode permitir a recolha de muitos e importantes dados, podendo gerar informação quantitativa e qualitativa.

Adaptado de:
http://www.imainternational.com/r_me_interview.php

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Entrevista semi-estruturada


De acordo com Interviewing in qualitative research, a ideia de um guião para a entrevista é muito menos específica que a noção associada ao planeamento duma entrevista estruturada.

Na prática, o guião duma entrevista corresponde a uma lista de tópicos ou áreas gerais a cobrir, algo que é frequentemente utilizado em entrevistas semi-estruturadas. Crucial é que o questionamento permita explorar, de modo flexível, a conduta durante a entrevista, de modo a ir ao encontro daquilo que seja o mais adequado para a linha de investigação em curso.

Para orientar essa flexibilidade, o entrevistador deverá, em permanência, procurar respostas para aquilo que realmente o "intriga", bem como para aquilo que precisa de saber, de forma a dar resposta às questões investigativas. Assim, na preparação dum guião de entrevista, deverão ser tidos em conta os seguintes aspectos:
  • Criar alguma ordem nas áreas/tópicos principais, de modo a que as questões sobre estas áreas/tópicos sejam fluidas, mas estar preparado para alterar a ordem das questões durante a entrevista;
  • Formular questões ou tópicos de entrevista que contribuam para dar resposta às questões investigativas (mas sem tornar as questões muito específicas);
  • Utilizar uma linguagem que seja facilmente compreendida e relevante para as pessoas a entrevistar;
  • Tal como em entrevistas quantitativas, não colocar questões que possam influenciar determinada resposta;
  • Recolher alguns dados extra, que permitam caracterizar os entrevistados de forma a melhor compreender e contextualizar as suas respostas.
(A este propósito, ver fig. 15.1, p. 319, em Interviewing in qualitative research)

Na entrevista semi-estruturada, o investigador tem uma lista de questões ou tópicos a ser cobertos (guião de entrevista), mas a entrevista em si permite uma relativa flexibilidade. As questões podem não seguir exactamente a ordem prevista no guião e poderão, inclusivamente, ser colocadas questões que não se encontram no guião, em função do decorrer da entrevista. Mas, em geral, a entrevista seguirá o que se encontra planeado.

As entrevistas semi-estruturadas (ou semi-directivas, de acordo com Quivy et al, 1992), apesar do guião elaborado pelo entrevistador, permitem que o entrevistado tenha alguma liberdade para desenvolver as respostas segundo a direcção que considere adequada, explorando, de uma forma flexível e aprofundada, os aspectos que considere mais relevantes.

Entre as principais vantagens das entrevistas semi-estruturadas, contam-se as seguintes:
  • A possibilidade de acesso a uma grande riqueza informativa (contextualizada e através das palavras dos actores e das suas perspectivas);
  • A possibilidade do/a investigador/a esclarecer alguns aspectos no seguimento da entrevista, o que a entrevista mais estruturada ou questionário não permitem;
  • É geradora, na fase inicial de qualquer estudo, de pontos de vista, orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação, a definição de novas estratégias e a selecção de outros instrumentos.

Vantagens e desvantagens da utilização da Entrevista como técnica de recolha de dados


Pontos fortes (vantagens) da entrevista como técnica de recolha de dados
  • Boa para medir atitudes e outro conteúdos de interesse que poderiam passar despercebidos técnicas de recolha de dados mais abstractas e menos personalizadas;
  • Permite a exploração e a colocação de questões adicionais complementares (para clarificação ou confirmação), por parte de quem entrevista;
  • Pode fornecer informação aprofundada e de pormenor;
  • Pode fornecer informação sobre os significados internos e maneiras de pensar dos inquiridos;
  • A entrevista utilizando questões do tipo fechado e de resposta directa, permite a obtenção de informação exacta necessária ao investigador;
  • A entrevista por telefone e por e-mail é particularmente adequada quando o prazo disponível impõe grandes restrições de tempo;
  • Fiabilidade e validade moderadamente elevadas para guiões de entrevista bem construídos e testados;
  • Pode ser utilizada em amostras probabilísticas;
  • Normalmente obtém elevadas taxas de adesão, em termos de respondentes;
  • Útil em exploração (abordagem indutiva) ou confirmação (abordagem dedutiva).
Pontos fracos ou vulnerabilidades (desvantagens) da entrevista como técnica de recolha de dados
  • A entrevista presencial tem maiores custos financeiros e maior dispêndio de tempo associado;
  • Efeitos reactivos, já que os entrevistados podem acabar por revelar apenas aquilo que é socialmente desejável/correcto;
  • Podem ocorrer enviesamentos provocados por quem investiga, como, por exemplo, os decorrentes de entrevistadores com pouca aptidão para entrevistar;
  • Os entrevistados podem não se recordar de informação importante/relevante e evidenciar falta de auto-percepção;
  • A percepção da garantia do anonimato da entrevista, por parte dos entrevistados, pode ser baixa;
  • A análise dos dados pode ser demorada, particularmente naqueles relativos a questões de resposta aberta;
  • A medição exige validação.

A Entrevista em Investigação Qualitativa


A entrevista é, porventura, uma das técnicas de recolha de dados mais utilizada em investigação qualitativa.

A flexibilidade que a entrevista permite é uma das características que a torna tão atractiva, se bem que o processo em si (a transcrição das entrevistas e a sua análise), consuma bastante tempo.

Entrevistar em investigação qualitativa é muito diferente de entrevistar em investigação quantitativa. A primeira é muito menos rígida que a segunda. A entrevista qualitativa preocupa-se mais com o ponto de vista do entrevistado enquanto a quantitativa se preocupa mais com o ponto de vista do investigador.

A entrevista qualitativa está normalmente associada a uma maior liberdade de resposta e a sua flexibilidade permite ao investigador redireccionar as questões e/ou aprofundar assuntos em função das respostas que o entrevistado vai dando, algo que não se passa numa entrevista quantitativa.

Na investigação qualitativa, a entrevista visa a obtenção de respostas completas, detalhadas e em profundidade (e o entrevistado pode-o ser por várias vezes, se isso for adequado para a investigação), tornando a sua análise mais complexa que as obtidas em entrevistas quantitativas, de mais fácil tratamento e análise.

Pelas suas características, a entrevista é particularmente "talhada" como técnica de recolha de dados em investigação qualitativa, em particular quando o objecto da investigação é de obter resposta a uma questão investigativa, exigindo a descrição e compreensão de determinados(s) aspectos(s), algo que é comum em estudos/investigações exploratórios.

Técnicas de Recolha de Dados: a Entrevista


Depois de se ter abordado a temática do Questionário como técnica de recolha de dados em Investigação, é agora a vez da Entrevista.

Para que a Entrevista, como técnica de recolha de dados, possa cumprir na plenitude a sua finalidade como técnica de recolha de dados, é importante que entre entrevistador e entrevistado exista confiança e empatia.

A ideia de que a entrevista é apenas qualitativa, é uma ideia errada, já que a entrevista pode ser quantitativa e qualitativa.

O tipo de entrevista a utilizar, como técnica de recolha de dados, dependerá, em primeiro lugar, da natureza da investigação (quantitativa, qualitativa ou mista), da respectiva abordagem (confirmatória/dedutiva ou exploratória/indutiva) dessa investigação e, obviamente, dos objectivos da investigação.

Estes últimos, em particular, para além de ditarem a natureza quantitativa ou qualitativa da entrevista, ditam a forma da entrevista, nomeadamente no que diz respeito à sua maior, menor ou ausência de estruturação.

As entrevistas quantitativas normalmente são padronizadas (a mesma informação é fornecida a toda a gente), utilizam questões fechadas e o seu guião é muito semelhante ao de um questionário (as duas grandes diferenças para o questionário são as seguintes: quem entrevista lê as questões e regista as respostas).

As entrevistas qualitativas normalmente baseiam-se em questões de resposta aberta e a forma como estão ou não estruturadas pode variar entre as entrevistas estruturadas e as não estruturadas, passando pelas semi-estruturadas.

domingo, 27 de abril de 2008

Balanço da semana: 20 Abr 2008 - 27 Abr 2008

Durante esta semana, sob a orientação da Professora Alda Pereira, fomos sendo sucessivamente confrontados com alguns aspectos sobre os quais poderíamos estar menos atentos, relativamente à concepção, planeamento, elaboração e aplicação do Questionário num Processo de Investigação.

O debate na Turma acabou por ter alguns períodos mais "animados", resultantes, sobretudo, das diferentes perspectivas manifestadas por alguns dos colegas que nele participaram.

Relembrado o conceito de "hipótese" em Investigação ("An hypothesis is a specific statement of prediction. It describes in concrete (rather than theoretical) terms what you expect will happen in your study."), o primeiro aspecto a suscitar o debate foi o relativo à possibilidade de o Questionário poder não ter sempre subjacente (a montante) a formulação de hipóteses, relembrando-nos que a formulação de hipóteses em investigação é típica duma abordagem confirmatória, normalmente associada ao método científico dedutivo, no qual o Questionário é utilizado como técnica de recolha de dados para confirmar (ou não) as hipóteses formuladas.

Mas o Questionário poderá ser também utilizado quando a investigação se processa segundo uma abordagem exploratória, normalmente associada ao método científico indutivo, no qual o Questionário é utilizado como técnica de recolha de dados, não para confirmar hipóteses, mas sim para permitir explorar questões investigativas colocadas previamente (a montante).

Ficou bem evidente que um Questionário em Investigação não tem, necessariamente, de ter uma finalidade de medição, quantitativa, podendo ter uma finalidade de compreensão, qualitativa.

Por último, mas não menos importante, abordámos aspectos relacionados com a validação dos instrumentos de recolha de dados (neste caso, o Questionário) e a validação dos dados obtidos através desses instrumentos, visto que a validade da Investigação é diferente da validade dos instrumentos. O conceito de validade não é um conceito absoluto, mas sim relativo, e assume diferentes graus.

Por exemplo, a validade dum Questionário em Investigação é operacionalizada através da verificação da validade do seu conteúdo, expressa através dum juízo relativo à extensão com que o Questionário cobre, de facto, o domínio implícito na finalidade para a qual foi elaborado. Consoante a finalidade, assim o mesmo Questionário poderá ter validade ou não.

Estudado e quase a terminar o debate sobre o Questionário, como técnica de recolha de dados em Investigação, na próxima terça-feira, 29 Abr 2008, inicia-se o estudo da Entrevista como técnica de recolha de dados em Investigação, sendo a metodologia a adoptar semelhante à que foi utilizada para o Questionário.