quinta-feira, 12 de junho de 2008

Debate sobre a Análise Qualitativa de Dados

Tem decorrido, desde o dia 09 Jun 2008 (segunda-feira) o debate em fórum alargado da Turma de Mestrado, relativamente à Análise Quantitativa de Dados, em particular sobre as questões que foram colocadas para reflexão.

Importa dizer que os argumentos trocados, têm permitido o ajustamento de opiniões e perspectivas, contribuindo para uma melhor percepção do tema, assim como o aprofundamento e consolidação de conhecimentos, em particular nos aspectos relativos às questões colocadas para reflexão.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Balanço da semana: 01 Jun 2008 - 08 Jun 2008

Esta semana foi dedicada ao estudo das técnicas de análise qualitativa de dados, apoiado na análise duma Dissertação correspondente a um estudo de natureza qualitativa (estudo de caso instrumental), do tipo exploratório, onde numa das fases da recolha de dados se utilizou a entrevista semi-estruturada.

Esta Dissertação já tinha sido objecto de análise previamente, pelo que a selecção da informação relevante para o estudo esteve facilitada. A par disto, foram colocadas algumas questões (seis) para reflexão, as quais, pelos tópicos abordados, permitiram que o estudo se centrasse nos aspectos essenciais.

Para nós, ficou bem evidente que a entrevista é uma das técnicas de recolha de dados mais adequadas a estudos ou investigações de natureza qualitativa, por conciliar as suas características com as da investigação qualitativa, das quais destacamos, em particular, a natureza descritiva, a flexibilidade e a possibilidade de poder ter a perspectiva e opinião dos sujeitos, algo que não é possível, na maioria das vezes, em estudos utilizando técnicas quantitativas de recolha de dados.

Mas estas características que tornam a investigação qualitativa tão rica, pelo aprofundamento que permite dos aspectos sob investigação, trazem igualmente uma grande dificuldade, não tão visível em estudos quantitativos, que se prende com a organização e sistematização dos dados recolhidos.

Sendo normalmente tanta e tão rica a informação recolhida por entrevistas "qualitativas", por parte do investigador há que assegurar que, na organização e sistematização dos dados recolhidos, o essencial não se "perde" no meio do "acessório", através da procura de padrões nas respostas obtidas às entrevistas, quando esta é a técnica de recolha de dados utilizada.

Nessa procura de padrões relativamente ao que é essencial, aspectos como a categorização e a codificação dos dados assumem-se como fundamentais no tratamento de toda a informação obtida, visando, para além da "filtragem", a criação de condições que permitam a "manipulação" (no bom sentido) da informação com vista à obtenção de conclusões, tendo em conta os objectivos da investigação, previamente definidos a partir do problema da investigação e consequente questão ou questões investigativas.

Neste particular, a análise de conteúdos (uma das metodologias utilizadas no tratamento e análise da informação obtida com recurso a entrevistas) parece ser uma técnica de análise de dados bastante "potente", contribuindo para facilitar o "estreitamento" do espectro de análise, sempre tão útil a um investigador que lida com informação que, sobretudo em investigação qualitativa, pode ser bem diversa.

Utilizada em exclusivo, esta metodologia revela-se, no entanto, bastante trabalhosa, como aliás todo o processo de análise de dados em investigação qualitativa. Neste particular, existem outras metodologias de análise de dados, as quais poderão ser utilizadas em exclusivo ou, preferencialmente, de modo complementar, como, por exemplo, software de análise qualitativa, uma ferramenta que, por norma, permite aumentar a eficiência do investigador, logo a sua "produtividade", na medida em que permite automatizar alguns processos manuais, introduzindo maior rapidez na análise, assim como uma maior garantia de que na sistematização não ficam por analisar aspectos que possam eventualmente ser importantes para as conclusões finais.

Os aspectos que se prenderam com as várias metodologias passíveis de ser utilizadas na análise qualitativa de dados, foram a grande "novidade" da semana, já que, até aqui, não estávamos sensibilizados para a verdadeira dificuldade dessa análise (apesar de termos a noção, tal como referimos em posts prévios, que as técnicas qualitativas de análise de dados não são tão "imediatas" como as técnicas quantitativas, pelo grau de dificuldade acrescido das primeiras relativamente às segundas), que resulta, sobretudo, das grandes vantagens das técnicas qualitativas, previamente enunciadas.

Chegados ao fim deste período de estudo e análise individual, relativos às técnicas de análise de dados (quantitativas e qualitativas) utilizadas em Investigação, a semana que agora se inicia irá ser ocupada com o debate alargado à turma, tendo por base as reflexões individuais relativamente a estes assuntos.

Análise Qualitativa de Dados: respostas às questões para reflexão

Relativamente às questões para reflexão, sobre Análise Qualitativa de Dados, elaborámos as seguintes respostas:

1) Se desenvolvesse uma investigação centrada no objecto de estudo desta Dissertação, escolheria a entrevista como método de recolha de informação?

Tendo em conta o Problema de Investigação (materializado por uma questão investigativa) e Objectivos (ponto 3.2. da Dissertação) e pelas mesmas razões que as invocadas pela autora no ponto 3.6.2. da Dissertação, também escolheria a entrevista qualitativa como técnica de recolha de informação.

Não o faria de modo exclusivo, já que seria importante, tal como a autora fez, numa 1ª. fase da recolha de dados, recorrer à análise de documentos que lhe permitiram caracterizar o contexto do seu estudo (um estudo de caso instrumental, de natureza qualitativa, utilizando uma abordagem exploratória).

Nesta circunstâncias, a entrevista qualitativa permite relevar o ponto de vista do entrevistado, com uma grande liberdade de resposta, e a sua flexibilidade (própria da entrevista semi-estruturada utilizada no estudo) permite ao investigador redireccionar as questões e/ou aprofundar assuntos em função das respostas que o entrevistado vai dando.

Na investigação qualitativa, a entrevista visa a obtenção de respostas completas, detalhadas e em profundidade, e os entrevistados podem-no ser por várias vezes, se isso for adequado para a investigação, algo que acontece neste estudo.

Pelas suas características, a entrevista é particularmente "talhada" como técnica de recolha de dados em investigação qualitativa, em particular quando o objecto da investigação é de obter resposta a um Problema ou Questão investigativa, exigindo a descrição e compreensão de determinados aspectos, algo que é comum em estudos/investigações exploratórios como este.

Pelas características da Investigação Qualitativa, a entrevista é particularmente adequada como técnica de recolha de dados tendo em conta que:

- As acções serão mais facilmente compreendidas se forem observadas no seu ambiente habitual de ocorrência, algo que é possível através entrevista pessoal;

- O estudo tem um carácter descritivo, onde não interessam apenas as palavras, mas também os gestos, atitudes, comportamentos e expressões;

- Permite a compreensão do significado (o "porquê"), algo essencial em Investigação Qualitativa, pois valoriza as perspectivas participantes, ou seja as diferentes perspectivas que várias pessoas possam ter sobre um mesmo objecto, coisa ou acção.

A entrevista permite descobrir o que os sujeitos sentem, o que pensam e como agem, aspectos de diversidade dos quais resulta a riqueza da Investigação Qualitativa.

2) Os procedimentos adoptados para a análise das entrevistas adequam-se aos objectivos da investigação?

Pensamos que sim, que os procedimentos adoptados para a análise das entrevistas (os procedimentos relativos à metodologia utilizada - análise de conteúdo) foram adequados aos objectivos da investigação, em particular, àqueles que a autora fez corresponder à 2ª. fase da recolha de dados (Quadro 5, p. 90 da Dissertação).

Tal como a autora refere, dada a complexidade e profundidade do corpus de dados recolhido, o processo utilizado na análise dos dados obtidos pelas entrevistas, permitiu organizá-los e sintetizá-los procurando padrões, interpretando e tornando os materiais recolhidos compreensíveis para si e para os outros.

Ao recorrer à análise de conteúdo e à sistematização correspondente, tendo como objectivo a produção de um texto analítico sobre os dados, descreveu os dados mas fez também inferências tendo em vista a particularização relativa a cada um destes objectivos do estudo (algo que seria difícil sem essa sistematização):

- Compreender o modo como os diferentes actores vêem esta escola;

- Identificar as características e estratégias de liderança e de gestão numa escola do 1º ciclo do Ensino Básico;

- Analisar o papel e a influência da(s) liderança(s) no processo de desenvolvimento do currículo a partir das percepções dos pais, professores, alunos e coordenadora de escola;

- Interpretar os efeitos e influências das lideranças na cultura e no clima da escola, no comportamento e aproveitamento dos alunos, e também nas famílias e comunidades locais.

3) Quais são as principais etapas de análise de conteúdo seguidas pela autora?

As principais etapas de análise de conteúdo seguidas pela autora, foram essencialmente a organização e sintetização da informação recolhida pelas entrevistas, procurando padrões que permitissem, primeiro, categorizar e, depois, codificar os dados obtidos, utilizando uma análise vertical, mas também horizontal (comparativa), o que permitiu a redução da informação, tendo em vista facilitar o seu processo de descrição e interpretação (algo que é bastante complexo em investigação qualitativa), tal como a autora explica no ponto 3.8. da Dissertação.

Deste modo, a investigadora conseguiu "sintetizar" os dados recolhidos, "orientando-os", em particular e tal como já se referiu na resposta à pergunta 2, para os 4 últimos objectivos definidos na parte final do ponto 3.2. da Dissertação, correspondentes à 2ª. fase, tal como consta do Quadro 5 (p. 90) da Dissertação.

4) A análise de conteúdo revela-se um método adequado para o tratamento da informação recolhida?

Sim, pensamos que a análise de conteúdo é um método adequado para o tratamento da informação recolhida, porque permite lidar com comunicações frequentemente numerosas e extensas para delas extrair um conhecimento que a simples leitura ou audição cumulativa não permitiria formar.

É, pois, uma metodologia que permite a "filtragem" dos dados recolhidos, ajudando o investigador a descobrir o essencial, combatendo a tendência em que este poderá cair de incluir tudo o que seja passível de ser descrito, ainda que acessório.

Essa "filtragem" consegue-se pelo levantamento de padrões, nas respostas obtidas às entrevistas, e consequente categorização e codificação, metodologia que permite dar importância ao que é essencial e passar para segundo plano aquilo que não for essencial.

5) De acordo com as leituras que realizou, poderiam ter sido seguidas outras metodologias de análise das entrevistas?

Efectivamente, nas leituras realizadas deparámo-nos com outras metodologias de análise de entrevistas, para além da análise de conteúdos, como, por exemplo, a Análise Semiótica, a Grounded Theory ou, ainda, a utilização de software de análise qualitativa.

Destas três metodologias, tendo em conta que o tipo de entrevista utilizado no estudo de caso da Dissertação foi a entrevista semi-estruturada, parece-nos que a mais adequada seria o recurso a software de análise qualitativa, o qual poderia ser utilizado de modo complementar e integrado com a análise de conteúdo, facilitando, pela introdução de algum grau de automatização, o trabalho de categorização e codificação dos dados (organização e sistematização), e posterior análise e interpretação dos mesmos, processo que foi efectuado de modo "manual" pela autora na Dissertação em análise.

6) Compare a sistematização da análise de conteúdo realizada pela autora com os outputs parciais publicados no espaço de documentos sobre análise qualitativa (“Análise Qualitativa.Tratamento” e Análise Qualitativa.Quadros). Que comentários lhe sugerem as diferenças que identifica?

As diferenças identificadas situam-se sobretudo ao nível do modo como a informação foi organizada e sistematizada.

Assim , temos que, na Dissertação, os dados forma organizados, sistematizados e apresentados de forma analítica e sequencial, em função dos aspectos em análise (aspecto a aspecto), tendo em vista os quatro objectivos do estudo antes identificados (e para os quais as entrevistas procuravam a recolha de dados), ao passo que nos outputs parciais apresentados nos dois documentos mencionados, sobre análise qualitativa, a organização e sistematização dos dados é própria da utilização de um software de análise qualitativa, metodologia que não foi a utilizada pela autora da Dissertação (mas sim a análise de conteúdo).

Voltamos a referir que, a utilização de software de análise qualitativa não "colidiria" com a análise de conteúdo efectuada, podendo ser utilizado de modo complementar, em particular no que diz respeito à obtenção dos tais aspectos essenciais (padrões) após a categorização e codificação das respostas às entrevistas.

domingo, 8 de junho de 2008

Diferentes Abordagens à Análise de Dados em Investigação Qualitativa

Segundo Bogdan e Biklen, "poderá ser útil pensar em dois modos de enquadrar as abordagens à análise [de dados]. Numa das abordagens, a análise é concomitante com a recolha dos dados e fica praticamente completa no momento em que os dados são recolhidos. Esta é a abordagem mais frequentemente utilizada pelos investigadores de campo experientes. Ela revela-se tanto mais eficaz e eficiente quanto melhor souber aquilo que está a fazer. A outra abordagem envolve a recolha dos dados antes da realização da análise. No entanto, os investigadores nunca a utilizam na sua forma mais pura, aproximando-se apenas dela, dado que a reflexão, sobre aquilo que se vai descobrindo enquanto se está no campo de investigação, é parte integrante de todos os estudos qualitativos.

(...) o investigador inexperiente deve utilizar estratégias referentes ao modo de análise no campo de investigação, deixando a análise mais formal para quando a maior parte dos dados tiverem sido recolhidos. As dificuldades no estabelecimento da relação e no acesso ao campo de investigação consomem demasiado tempo ao investigador inexperiente, para que ele possa envolver-se activamente na análise. Para além disso, os investigadores inexperientes, quando se encontram pela primeira vez no campo de investigação, não possuem, frequentemente, um quadro de referência teórico e suficientemente sólido que lhes permita dar-se conta de aspectos e temas relevantes para a sua investigação. Para realizar a análise concomitantemente, mostra-se necessário ter a capacidade de se aperceber de aspectos conceptuais e substantivos que vão surgindo (...)"

Referência:
BOGDAN, R. & BIKLEN, S. (2006). Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora.

Reflexões sobre Investigação Qualitativa

Fruto da associação que normalmente é feita entre Investigação Quantitativa e Técnicas Estatísticas, existe a noção "errada" de que a Investigação Qualitativa é bastante mais simples.

Dizemos "errada" pois pensamos que, numa área que era dominada "pelas questões de mensuração, definições operacionais, variáveis, teste de hipóteses e estatística, alargou-se para contemplar uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais" (Bogdan e Biklen, 2006: 11).

Este último aspecto, em particular, a par da própria sensibilidade do investigador, no seu esforço permanente de objectividade para evitar a subjectividade, tornam as técnicas qualitativas de investigação num desafio de grau de dificuldade bem maior que aquele que aparenta.

Fruto da utilização de métodos mistos de investigação, onde as técnicas de investigação quantitativa e qualitativa se complementam e integram, não será descabido falar no grau que determinada investigação apresenta, em termos das suas características "mais quantitativas" ou "mais qualitativas".

Normalmente, atribuem-se as seguintes características à Investigação Qualitativa:

- A fonte directa de dados é o ambiente natural e o investigador é o instrumento principal. O investigador tem a noção que o contexto é importante e que as acções serão mais facilmente compreendidas se forem observadas no seu ambiente habitual de ocorrência. Para a Investigação Qualitativa, a perspectiva é a de que o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que ocorre e, por essa, razão, o investigador deve privilegiar a observação in situ.

- A Investigação Qualitativa é essencialmente descritiva (ao contrário da Quantitativa que tende a traduzir e a sintetizar a realidade num "número"). Isto significa que os dados são recolhidos sob a forma de palavras e imagens, em vez de números. Este carácter descritivo confere à Investigação Qualitativa um carácter de minúcia, onde não interessam apenas as palavras, mas também os gestos, atitudes, comportamentos e expressões, entre outros aspectos. Existe um questionamento permanente sobre tudo, não havendo nada que seja considerado como um dado adquirido, já que se procura a razão que está por trás de determinado acontecimento, situação, acção, atitude ou comportamento.

- A Investigação Qualitativa interessa-se mais pelo processo do que pelos resultados ou produtos. Isto é importante na medida em que se, por um lado, as técnicas quantitativas de investigação permitem apurar se existiram mudanças, é essencialmente através das técnicas qualitativas que se apura como ocorreram essas mudanças.

- A Investigação Qualitativa tende a analisar os dados recolhidos de forma indutiva, numa abordagem de investigação exploratória, tentando dar resposta a questões investigativas, mais do que uma abordagem dedutiva e confirmatória de hipóteses previamente colocadas. As abstracções só são construídas à medida que os dados se vão recolhendo e agrupando, de acordo com aquilo que é conhecido como "Teoria Fundamentada" (Glaser e Strauss, 1967). À partida para a investigação, não se privilegiam umas questões investigativas relativamente a outras, pois admite-se que não se sabe o suficiente para reconhecer quais são as questões importantes a priori.

- A compreensão do significado (o "porquê") é essencial em Investigação Qualitativa, que se interessa pelas perspectivas participantes, ou seja nas diferentes perspectivas que as várias pessoas possam ter sobre um mesmo objecto, coisa ou acção. Interessa o que os sujeitos sentem, o que pensam e como agem, pois é dessa diversidade que resulta a riqueza da Investigação Qualitativa e o seu grau de dificuldade, em virtude de não se poder reduzir essa diversidade a um número "simplificador".

Referência:
BOGDAN, R. & BIKLEN, S. (2006). Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora.