domingo, 8 de junho de 2008

Reflexões sobre Investigação Qualitativa

Fruto da associação que normalmente é feita entre Investigação Quantitativa e Técnicas Estatísticas, existe a noção "errada" de que a Investigação Qualitativa é bastante mais simples.

Dizemos "errada" pois pensamos que, numa área que era dominada "pelas questões de mensuração, definições operacionais, variáveis, teste de hipóteses e estatística, alargou-se para contemplar uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das percepções pessoais" (Bogdan e Biklen, 2006: 11).

Este último aspecto, em particular, a par da própria sensibilidade do investigador, no seu esforço permanente de objectividade para evitar a subjectividade, tornam as técnicas qualitativas de investigação num desafio de grau de dificuldade bem maior que aquele que aparenta.

Fruto da utilização de métodos mistos de investigação, onde as técnicas de investigação quantitativa e qualitativa se complementam e integram, não será descabido falar no grau que determinada investigação apresenta, em termos das suas características "mais quantitativas" ou "mais qualitativas".

Normalmente, atribuem-se as seguintes características à Investigação Qualitativa:

- A fonte directa de dados é o ambiente natural e o investigador é o instrumento principal. O investigador tem a noção que o contexto é importante e que as acções serão mais facilmente compreendidas se forem observadas no seu ambiente habitual de ocorrência. Para a Investigação Qualitativa, a perspectiva é a de que o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que ocorre e, por essa, razão, o investigador deve privilegiar a observação in situ.

- A Investigação Qualitativa é essencialmente descritiva (ao contrário da Quantitativa que tende a traduzir e a sintetizar a realidade num "número"). Isto significa que os dados são recolhidos sob a forma de palavras e imagens, em vez de números. Este carácter descritivo confere à Investigação Qualitativa um carácter de minúcia, onde não interessam apenas as palavras, mas também os gestos, atitudes, comportamentos e expressões, entre outros aspectos. Existe um questionamento permanente sobre tudo, não havendo nada que seja considerado como um dado adquirido, já que se procura a razão que está por trás de determinado acontecimento, situação, acção, atitude ou comportamento.

- A Investigação Qualitativa interessa-se mais pelo processo do que pelos resultados ou produtos. Isto é importante na medida em que se, por um lado, as técnicas quantitativas de investigação permitem apurar se existiram mudanças, é essencialmente através das técnicas qualitativas que se apura como ocorreram essas mudanças.

- A Investigação Qualitativa tende a analisar os dados recolhidos de forma indutiva, numa abordagem de investigação exploratória, tentando dar resposta a questões investigativas, mais do que uma abordagem dedutiva e confirmatória de hipóteses previamente colocadas. As abstracções só são construídas à medida que os dados se vão recolhendo e agrupando, de acordo com aquilo que é conhecido como "Teoria Fundamentada" (Glaser e Strauss, 1967). À partida para a investigação, não se privilegiam umas questões investigativas relativamente a outras, pois admite-se que não se sabe o suficiente para reconhecer quais são as questões importantes a priori.

- A compreensão do significado (o "porquê") é essencial em Investigação Qualitativa, que se interessa pelas perspectivas participantes, ou seja nas diferentes perspectivas que as várias pessoas possam ter sobre um mesmo objecto, coisa ou acção. Interessa o que os sujeitos sentem, o que pensam e como agem, pois é dessa diversidade que resulta a riqueza da Investigação Qualitativa e o seu grau de dificuldade, em virtude de não se poder reduzir essa diversidade a um número "simplificador".

Referência:
BOGDAN, R. & BIKLEN, S. (2006). Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora.

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